Foto: Jack Ma, CEO da Alibaba: ele manteve o controle da operação e agora prepara IPO (Crédito: TPG/Getty Images)

Bilhões de sorrisos

A Ant Financial, controlada pela Alibaba, de Jack Ma, está prestes a se tornar a startup mais valiosa do mundo, avaliada em inacreditáveis US$ 150 bilhões

Quem entra hoje em uma loja na China pode pagar com um sorriso. Isso graças a tecnologia de reconhecimento facial da Ant Financial, empresa de meio de pagamentos controlada pela gigante chinesa de comério eletrónico Alibaba. Mas é o CEO Jack Ma, seu dono, quem deve abrir um largo sorriso em breve, se for confirmado o aporte de US$ 10 bilhões de fundos de investimento, como o Carlyle Group e o Canada Pension Plan Investment Board. Prevista para ocorrer neste mês de maio, a transação transformará a Ant Financial na startup mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 150 bilhões. Até o momento, o aplicativo de transporte Uber ocupa o topo do ranking das maiores empresas iniciantes, com um valor de
US$ 72 bilhões.

De acordo com o jornal britânico Financial Times, a Ant Financial enviou um documento para potenciais investidores, na quarta-feira 16, onde declara ter 622 milhões de usuários nos 70 países em que oferece o serviço de meio de pagamento Alipay. São consumidores que não pagam mais com dinheiro em papel, preferindo usar o QR, espécie de código de barras em formato quadrado. Até então, a empresa informava o número de 520 milhões de usuários. O número de investidores na esperada rodada de financiamento já atingiu o limite previsto, segundo o jornal britânico.

A Ant Financial foi desmembrada da Alibaba em 2011, mas Jack Ma manteve o controle da operação. Em fevereiro, a empresa-mãe adquiriu 33% de sua afiliada por valor não revelado. Toda a movimentação deste ano seria uma preparação para a abertura de capital, que deve ocorrer ainda em 2018. Os números chineses fazem a concorrência parecer pequena. Fora da China, o maior rival é a americana Paypal, presente em 200 países, onde atende 237 milhões de usuários. O contraste com os 622 milhões de usuários da Alipay se explica pelo fato de que não se usa mais dinheiro em papel nas grandes capitais da China. Por lá, as plataformas de pagamento móvel movimentaram US$ 15,4 trilhões ano passado, de acordo com o QuestMobile, empresa de pesquisa asiática. É um valor 70 vezes maior do que nos Estados Unidos, que movimentou US$ 220 bilhões em 2017. A expectativa é que o meio de pagamento seja a porta de entrada para outros serviços. “Ele é uma forma fantástica de iniciar uma população enorme no uso de aplicativos móveis”, diz Jeffrey Towson, professor da Universidade de Pequim. “A partir dele, será possível construir uma superplataforma de serviços financeiros para os consumidores chineses.”


Foto: Sem papel: pagamento digital móvel movimentou US$ 15,4 trlhões na China em 2018 (Crédito:Xinhua/Xu Kangping)(mcg/wyo)

Enquanto planeja a diversificação de produtos em casa, Jack Ma trabalha para ampliar o número de usuários fora da China. A princípio, a estratégia da Ant Financial é ir atrás dos turistas chineses, o que significa mais de 120 milhões de pessoas. No topo da lista estão países como Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Nesse caso, a facilidade é que eles já estão acostumados com o pagamento via código QR. O que não quer dizer que Ma não deva investir no Ocidente. Estados Unidos e países europeus também estão na lista, ainda que sejam somente por se tratar de destino dos turistas chineses.

Para realizar essa expansão, a Ant Financial terá de adaptar seu aplicativo aos países em que pretende atuar, além de buscar parcerias locais. Analistas estimam que a companhia também deve investir até US$ 4 bilhões em subsídios para o varejo, em redes como Carrefour, bandeiras de cartão de crédito e comércio em geral. Convencer o ocidental a usar a Alipay seria o passo seguinte, mas essa é uma tarefa difícil. “Entender os costumes de compra estrangeiros é um desafio para eles. Mercados como o brasileiro não são fáceis de conquistar se a empresa não fizer uma aquisição”, diz Kapron. Por essa razão, é improvável que a Ant Financial chegue ao Brasil no curto prazo.

Os 70 mil turistas chineses que vem ao País anualmente não justificariam uma grande operação. Entretanto, o mercado local é muito semelhante ao ambiente em que a empresa cresceu dez anos atrás na China: população não bancarizada e com forte uso de smartphones. “O nível de maturidade de Brasil e China é parecido: baixa adoção de cartão de crédito e varejo menos sofisticado”, diz In Hsieh, cofundador da China Brazil Internet Promotion (CBIPA). Portanto, pode demorar, mas ainda é possível que Jack Ma venha a fazer os usuários sorrirem no Brasil na hora de pagar.

Fonte: ISTOÉ DINHEIRO