Boticário mira classe C e compra Vult

Boticário mira classe C e compra Vult

O Grupo Boticário deu ontem (9) um passo para se aproximar das consumidoras das classes C e D ao comprar a marca Vult, fundada em Mogi das Cruzes (SP) há 13 anos e que durante a crise econômica vinha crescendo entre 40% e 50% anualmente graças à sua proposta de preços baixos. O Boticário não revelou o valor da aquisição, mas a reportagem apurou que a receita anual da Vult hoje gira em torno de R$ 300 milhões.

Depois de lançar uma série de marcas próprias entre 2011 e 2013 – entre elas Quem Disse, Berenice?, Eudora e The Beauty Box – e de firmar sua marca principal nas vendas diretas, um território que tradicionalmente era ocupado por Avon e Natura, o Boticário agora dá passos para atuar no varejo multimarcas.

Embora a Vult tenha alguns pontos de venda próprios, em especial quiosques, fontes do setor de cosméticos dizem que o forte da empresa são as vendas em distribuidores, farmácias e supermercados.

Tendo como carro-chefe uma linha de maquiagem voltada às classes C e D, a Vult tem produtos vendidos a menos de R$ 10 – valor mais baixo do que o praticado pela Quem Disse, Berenice?, cadeia do Grupo Boticário voltada principalmente à maquiagem.

Crescimento. Nos anos de crise, entre 2015 e 2017, disse uma fonte do setor de cosméticos, a proposta de valor da companhia agradou às consumidoras e garantiu um forte crescimento à empresa. Hoje a empresa teria uma fatia de 30% no mercado multimarcas.

De acordo com dados da consultoria Euromonitor, a aquisição vai adicionar 4 pontos porcentuais à participação do Grupo Boticário no mercado nacional de maquiagem, do qual passará a deter mais de 15%. Será o suficiente para a empresa ultrapassar a Natura e conquistar a segunda posição no segmento, que continuará a ser liderado pela Avon, que detém 24% das vendas de maquiagem no País.

O negócio marca um raro movimento do grupo paranaense, que faturou R$ 12,3 bilhões no ano passado, com alta de 7% ante 2016, no mercado de fusões e aquisições. Em 2013, a empresa havia comprado uma fatia da distribuidora de perfumes Frajo, que também tem a Coty entre suas acionistas.

Comando. O Grupo Boticário passará a ser dono de 100% do negócio, mas os fundadores da marca, Murilo Reggiani e Daniela Cruz, permanecerão à frente do negócio, pelo menos neste primeiro momento. Procurados, o Grupo Boticário e os fundadores da Vult não quiseram dar entrevista. O Boticário alegou que o negócio depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser concluído.

Segundo apurou a reportagem, no entanto, Reggiani foi a força criativa por trás da criação da Vult, enquanto Daniela entrou com a maior parte do capital do negócio, aberto em 2004. Uma fonte próxima à empresa contou que, após quase se formar em engenharia, o empresário decidiu se dedicar à venda de cosméticos.

Começou trabalhando para a Max Love, mas, depois de essa empresa enfrentar dificuldades, decidiu abrir seu próprio negócio. 

Fonte: http://fusoesaquisicoes.blogspot.com.br

McCain do Brasil compra 49% de participação na Forno de Minas

McCain do Brasil compra 49% de participação na Forno de Minas

A McCain do Brasil Alimentos, fabricante de batatas pré-fritas e congeladas, fechou acordo para adquirir 49% de participação no capital da Forno de Minas Alimentos. O valor da aquisição não foi divulgado. Como parte do acordo, os acionistas fundadores da Forno de Minas — Helder Couto de Mendonça, Maria Dalva Couto Mendonça, Hélida Stael Mendonça Vicente Camiloti — vão aportar suas ações na TPZ Participações, que será transformada em uma sociedade anônima de capital fechado. A TPZ vai controlar a Forno de Minas.

A McCain vai adquirir todas as ações que pertencem atualmente à Mercatto Alimentos Fundo de Investimento em Participações Empresas Emergentes. Na sequência, vai aportar as ações na TPZ Participações. Em seguida, a McCain vai adquirir parte das ações de emissão da TPZ detidas pelos acionistas fundadores. E fará um aumento de capital na TPZ.

Os acionistas fundadores e a McCain assinarão um acordo de acionistas na TPZ, pelo qual será regulada a governança entre os acionistas na administração da TPZ e da Forno de Minas.

Após esse processo, a McCain do Brasil deterá 49% de participação na TPZ; os fundadores terão os outros 51%.

Fonte: Valor Econômico | Cibelle Bouças

Balanço das Fusões e Aquisições nos primeiros dois meses de 2018

Balanço das Fusões e Aquisições nos primeiros dois meses de 2018

Crescimento no volume e queda montante dos negócios realizados em fevereiro de 2018. No mês foram realizadas 61 transações, com um crescimento de 13,0%, e investimentos de R$ 11,2 bilhões – representando uma queda 46,1%, comparativamente ao mesmo mês do ano anterior.  O volume de transações nos primeiros dois meses do ano, no total de 119,  registrou um crescimento de 21,0%, e  o valor total dos negócios verificou-se um aumento de 21,0%, com o montante estimado de  R$ 33,7 bilhões.

No acumulado dos doze meses sinaliza um aumento de 0,8% do número de transações, com  873 operações. O valor médio das transações em fevereiro registrou uma queda de 52,3%, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado dos dois primeiros meses, verificou-se um crescimento de 3,8%. As operações de porte até R$ 50 milhões cresceram 29,6% no acumulado do ano. O maior aumento foi de operações acima de um bilhão de reais. Os setores de TI, OUTROS, HOSPITAIS E LAB. DE ANÁLISES CLÍNICAS e EDUCAÇÃO foram os mais ativos no mês.  Entre os maiores crescimentos destaque para TI e SERVIÇOS PÚBLICOS. O maior apetite no mês ficou por conta dos investidores Estratégicos  com 47 operações e investimento de R$ 9,1 bilhões. Os Financeiros realizaram 14 operações no mês, no montante  R$ 2,1 bilhões. Os investidores de Capital Estrangeiro realizaram 22 operações no montante de R$ 5,4 bilhões. Já os Investidores Nacionais predominaram no volume de transações, responderam no mês por 39 operações – 63,9%,  e por 51,1 % dos investimentos – R$ 5,7 bilhões. Por país, os EUA, com 8 operações,  foi o maior investidor no mês. Maior transação do mês  –  A Ecorodovias venceu a concorrência para exploração de rodovias no Estado de Minas Gerais, com uma oferta pela outorga de 2,06 bilhões de reais.

Operações de Fusões e Aquisições divulgadas com destaque pela imprensa brasileira no decorrer do mês de FEVEREIRO de 2018.

ANÁLISE DO MÊS

Setores mais ativos – Os 5 setores mais ativos responderam por 62,3% do total das operações e 54,3% do valor total dos investimentos.

Crescimento de 5,2% do número de operações  em relação ao mês anterior. Foram divulgadas com destaque pela imprensa neste mês 61 transações em 21 setores da economia brasileira, registrando um crescimento de 5,2% em relação ao mês anterior ( 58 operações).

Evolução nos últimos 5 anos  – Comparativamente ao mesmo fevereiro do ano anterior verificou-se um crescimento de 13,0%

Maiores apetites x maiores quedas.  Setores mais representativos. No gráfico dos setores mais ativos no mês de fevereiro de  2018, além de TI, destacam-se OUTROS, HOSPITAIS E LAB. DE ANÁLISES CLÍNICAS e EDUCAÇÃO.

Entre os maiores crescimentos destaque para TI e SERVIÇOS PÚBLICOS

Entre as maiores quedas destaque para IMOBILIÁRIO

O acumulado do volume de transações dos últimos doze meses sinaliza crescimento. O mês sinaliza um crescimento de 0,8% do número de transações de M&A acumuladas nos últimos doze meses – fevereiro de 2018, com  873 operações, comparativamente com o mesmo período do mês anterior.
No gráfico do acumulado dos 12 meses, pode-se inferir ciclos distintos de crescimento e queda do número de transações,  incluindo prováveis fatores que mais estão repercutindo nas expectativas de investimentos.


Porte – 55,7% das transações no mês são de porte até R$ 50 milhões – Das 61 transações apuradas no mês,  34   são de porte até R$ 49,9 milhões –  55,7% do total e responderam por 4,2% do seu valor.
No acumulado do ano de 2018, para este mesmo porte de operações, registraram-se 70 transações representando 58,8% do total  e 2,9% do valor.

Crescimento de 29,6 % nas operações de porte até R$ 50 milhões. Operações de porte até R$ 50 milhões apresentaram crescimento significativo –  de 29,6%, nos dois  primeiros meses do ano. Por sua vez, as transações de porte de R$ 50 a R$ 500 milhões mantiveram-se no mesmo patamar do ano anterior.

Em fevereiro de 2018,  foram realizadas 3 operações acima de um bilhão de reais. O maior crescimento do número de transações ocorreu  nas de  porte superior a R$ 1,0 bilhão. Destaque para a Ecorodovias vencendo concorrência para exploração de rodovias no Estado de Minas Gerai. A Rhône Capital compra da Fogo de Chão em acordo de US$560 mi. E a Duratex vende terras e florestas para Suzano por R$ 1,05 bi.

Crescimento de 21,0% do montante dos investimentos acumulados em 2018, em relação ao período do ano anterior.  Quanto aos montantes dos negócios realizados em fevereiro  de 2018, estima-se o total de R$ 11,2 bilhões, representando uma queda de  50,4%  em relação ao mês anterior – considerando Valores Divulgados (68,4%)  e Não Divulgados/Estimados (31,6%). Comparativamente ao mesmo mês do ano anterior verificou-se um crescimento de 45,9%. No acumulado do ano de 2018, verificou-se um crescimento de 21,0% do valor.

Valor médio das transações acumuladas no ano registrou crescimento de 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor médio das transações realizadas no acumulado do ano alcançou R$ 283,4 milhões, contra R$ 273,1 milhões no mesmo período de 2017, representando um crescimento de  3,8%.

Investidores estratégicos predominam no volume e montante das operações – O maior apetite neste mês ficou por conta dos investidores Estratégicos  com 47 operações (77,0%), e responderam por 81,3%  dos montantes investidos. No acumulado do ano, os estratégicos, com  operações responderam por 78,2% dos negócios e 71,2%   dos investimentos.
Os Financeiros realizaram 14 operações no mês de janeiro, no montante  R$ 2,1 bilhões. No acumulado do ano os investidores financeiros alcançaram  26 operações, 21,8% dos negócios e 28,8%  dos investimentos.

Investidores Estrangeiros com maior apetite no  montante das transações. Os investidores de Capital Estrangeiro realizaram no mês 22 operações no montante de R$  5,4 bilhões. No acumulado do ano, os Estrangeiro investiram cerca de R$ 22,1 bilhões (65,4%) , em 47 operações (39,5%), representando crescimento de 36,5% e 14,6%, respectivamente.
Investidores Nacionais predominaram no volume de transações. Os investidores de Capital Nacional foram responsáveis por 39 operações – 63,9%, no mês e por 51,1% dos investimentos.
No acumulado do ano, os investidores nacionais foram responsáveis por 72 operações – 60,5% – e investimento da ordem de R$ 11,7 bilhões, o equivalente a 34,6%. Verificaram-se uma queda de 0,2% do montante  sobre o mesmo período do ano anterior e de um aumento de 18,0% no quantitativo.

Por país, os EUA, com 8 operações,  foi o maior investidor no mês de fevereiro.

Maior transação do mês  –  Ecorodovias vence concorrência por lote de rodovias em MG com oferta de R$2,06 bi pela outorga – A Ecorodovias se classificou em primeiro lugar na concorrência para exploração por 30 anos de um lote de rodovias no Estado de Minas Gerais, com uma oferta pela outorga de 2,06 bilhões de reais – trechos da BR-135, MG-231 e LMG-754, totalizando 363,95 quilômetros.  06/02/2018

SUMÁRIO DOS DESTAQUES DO MÊS – FUSÕES E AQUISIÇÕES
A ordem da relação das transações de Fusões e Aquisições segue a data em que foram divulgadas pela imprensa e/ou  postadas no blog fusoesaquisicoes.blogspot.com. e podem ser localizadas nos endereços abaixo.

DESTAQUES DA:

  • SEMANA DE 26/fev a 04/mar2018
  • SEMANA DE 19 a 25/fev/2018
  • SEMANA DE 05 a 11/fev/2018
  • SEMANA DE 29/jan a 04/fev/2018

DESTAQUES DO MÊS ANTERIOR

  • FUSÕES E AQUISIÇÕES: 58 TRANSAÇÕES REALIZADAS EM JANEIRO/18
  • TI – RADAR de Fusões e Aquisições, em janeiro/2018

M&A – QUEM, O QUÊ, QUANDO, QUANTO, COMO e POR QUÊ

 A pesquisa FUSÕES E AQUISIÇÕES – DESTAQUES DO MÊS tem o propósito de captar o “clima” do mercado das operações de Fusões e Aquisições bem como sinalizar suas principais tendências. Trata-se da compilação de notícias visando tornar mais acessíveis e conhecidos os negócios de fusão, aquisição e venda anunciados/realizados entre empresas com atuação no Brasil. Todas as informações sobre os negócios citados no presente relatório são obtidas a partir de notícias consideradas confiáveis publicadas pela imprensa e divulgadas no “estado” pelo blog FUSOESAQUISICOES.BLOGSPOT http://fusoesaquisicoes.blogspot.com.br , não sendo feita qualquer verificação quanto à sua veracidade, precisão ou integridade do conteúdo. Operações divulgadas em relatórios anteriores podem sofrer alterações, por conta de cancelamentos, renegociações, atualizações,  etc. Sempre que possível, serão mencionados os nomes dos compradores – investidor estratégico ou fundos de private equity, dos vendedores, a tese de investimento e principais “value drivers”, o valor da transação, forma de pagamento, múltiplos praticados (Valor da Empresa/EBITDA, Valor da Empresa/Receita) etc. Muitas vezes a notícia não é clara a respeito dos valores/forma de pagamentos e respectivos múltiplos. É bem-vinda toda e qualquer contribuição para tornar as informações mais precisas e transparentes.
Fonte: http://fusoesaquisicoes.blogspot.com.br
Starbucks Brasil é vendida para fundo de investimento

Starbucks Brasil é vendida para fundo de investimento

De acordo com a Starbucks, “o fundo de investimentos SouthRock planeja impulsionar o crescimento de longo prazo no país”

A operação brasileira da Starbucks mudou de mãos. O fundo de investimentos SouthRock adquiriu o direito de explorar e desenvolver a rede de cafeterias por aqui. Dessa forma, a rede passa a operar por meio de um parceiro licenciado no país, assim como acontece com outros países da América Latina e Caribe.

O valor da transação não foi revelado.

A rede de cafeterias chegou ao Brasil em 2006 e hoje tem 113 lojas em 17 cidades brasileiras, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com faturamento de cerca de 250 milhões de reais por ano.

Os primeiros rumores sobre a transação surgiram em outubro do ano passado. O fundo também havia feito uma oferta pelo Eataly e pelo supermercado St. Marche em 2016.

O fundo, que administra 100 milhões em investimentos, foi fundado em 2015 por Kenneth Pope e tem sua sede em São Paulo.

De acordo com a Starbucks, “ao alavancar o seu forte conhecimento de mercado em imóveis comerciais, marketing e operações, ao SouthRock planeja impulsionar o crescimento de longo prazo no país”.

“Nós acreditamos firmemente que este é o momento certo para alavancar um forte parceiro de negócios local, como o SouthRock, enquanto buscamos nossa ambiciosa agenda de crescimento a longo prazo para o Brasil”, disse Ricardo Rico, gerente-geral e vice-presidente de operações de lojas licenciadas da Starbucks para a América Latina.

A SouthRock irá investir 1 milhão de dólares para impulsionar seu impacto social, como o programa de educação gratuito Starbucks Global Academy.

Fonte: Exame

Por trás daquela mesa virada – Ricardo Semler

Por trás daquela mesa virada – Ricardo Semler

“Meu objetivo é evitar que aos 40 anos vocês comprem um conversível vermelho e troquem uma mulher de 40 por duas de 20. É só isso que estou fazendo aqui. O resto é irrisório, o resto vocês pegam.”

Com esse relato, o empresário Ricardo Semler lembra de sua performance, aos 26 anos, diante de um grupo de alunos do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), para quem dava um curso de liderança na década de 80.

Herdeiro da Semco, fornecedora de máquinas para a indústria, ele ficou famoso com o best-seller “Virando a Própria Mesa – Uma História de Sucesso Empresarial Made in Brazil”, que completa 30 anos em 2018. Seus métodos de gestão democrática ultrapassaram fronteiras e, em 1994, ele foi incluído na lista dos “cem jovens líderes globais”, da revista americana “Time”. Da gestão corporativa para um novo conceito de educação, no qual atua hoje, ele ainda busca virar mais algumas mesas.

Aos 58 anos, com uma soma de vitórias e derrotas pelo caminho, ele mantém a irreverência. Diz não acreditar que a vida vai dando pancadas e que elas são um aprendizado para a submissão, nem que as derrotas acabam por ser um passaporte para o medo.

É de forma pouco usual que Semler se apresenta no restaurante Balaio, no Instituto Moreira Salles da avenida Paulista, em São Paulo, para este “À Mesa
com o Valor”. Pouco depois do horário marcado, ele se levanta da mesa onde almoçava com o economista Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras entre 1999 e 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, e se aproxima da repórter: “Você é a Maria da Paz? Aproveitei e marquei um almoço antes”. O sorvete de morango fica intocado ao se despedir de Reichstul e mudar de mesa para iniciar uma nova refeição.

Durante o almoço, Semler mal toca no prato. Escolhe o carro-chefe da casa, capitaneada pelo cozinheiro Rodrigo Oliveira: o arroz de linguiça bragantina,
costelinha e quiabo. Para acompanhar, uma minigarrafa de vinho tinto chileno. De sobremesa, pede novamente sorvete de morango para, agora sim, prová-lo. Está sem fome: horas antes fez exames com contrastes que o deixaram enjoado.

Semler emenda ideias e assuntos. Fala com vitalidade mesmo quando relata sua preparação para a morte. “Os projetos que estou fazendo são mais
arriscados para o último terço da vida. Não aceito a ideia de que coisas que dão errado são indício de que ser conservador é mais seguro.” Em vez de dizer “já me dei mal, então é hora de me acovardar”, ele prefere adquirir autoconfiança e “arriscar, mesmo que dê errado”.

Ousadia, segundo Semler, é o que falta no mundo corporativo, dominado por medo e insegurança; na vida, isso não ocorre na mesma proporção, diz. “A gente tem medo das coisas difíceis: amor, morte, o filho que chega e o que vai embora, mas essas coisas você aceita como um ritual pelo qual tem que passar.” Para ele, os medos são excessivos, menores e menos justificáveis no mundo dos negócios – aí temos vaidade e medo do fracasso, conta.

O formato da Semco, fundada em 1953 por seu pai, o engenheiro austríaco Antonio Curt Semler, mudou muito ao longo do tempo. Ricardo Semler já foi o principal acionista e, hoje, está reduzindo
sua participação. Ele é vago quando cita o número de empresas do grupo: são cinco ou seis, com pouco menos de 5 mil funcionários, nas quais tem real poder de decisão. Detém de 70% a 90% das ações. “Há cerca de dez empresas, mas em várias tenho participação minoritária e não mando nada.”

Seu principal negócio atualmente é a Semco Style, criada na Holanda, para exportar métodos de gestão que o tornaram conhecido. A tentativa de criar uma consultoria e treinamento para mudar as empresas para o estilo Semco nunca deu certo no Brasil. “Fomos para outro país e o negócio engrenou. Há seis meses abrimos a Semco Style no Japão.”

Em seguida vieram África do Sul, Índia e Austrália. Para passar o conceito, a Semco Style torna disponível gente de sua rede, que agora tem cerca de mil executivos. Quatro ou cinco vão para cada um desses países e ficam o tempo necessário. Agora há uma equipe indo para Dubai, outra para Bagdá, no Iraque. As questões são desfazer hierarquias, eliminar pirâmides e criar um mecanismo fluido no qual as pessoas trabalhem com prazer. Alguns de seus métodos, fora do timing da época, são realidade em empresas do Vale do Silício.

“Temos formação machista, preconceituosa e militaresca, mas não somos reféns disso. Quando você dá para a pessoa a possibilidade de se libertar, é raro quem não queira. A transição de uma pessoa ‘caxias’ para uma que vê que não precisa ficar muito no escritório é muito rápida”, diz.

Seus preceitos sobre as normas de trabalho destoam dos vigentes. “Não me interessa saber quantas horas você ficou no trabalho, o que fez. O que interessa é o que você vai me entregar. Todo o resto é problema seu. Ainda mais se eu puder negociar o prazo, o que no nosso caso é possível. Essa liberdade acaba gerando uma empresa onde as pessoas têm uma disposição muito maior de produzir.”

Ao refletir sobre os conceitos equivocados de disciplina que vigoram e empresas, Semler indaga onde e quando começou essa submissão. “Quando se instala a doutrina militar? Desde os 2 anos. É impossível resolver as questões na empresa, visto que a educação é a base de tudo”, afirma. “Eu estou batendo na mesma tecla há 40 anos. Tenho sempre a inquietação de perguntar: ‘Por que fazemos as coisas desse jeito?’. Deve haver um jeito melhor.”

Rindo, ele conta que quando discute com a mulher, Fernanda Ralston Semler, ela costuma dizer: “Você só teve uma ideia na vida. É um homem de uma ideia só”. O empresário acha que ela tem razão. Sua busca na vida é tentar “quebrar compartimentos” – se você der a pessoas, a partir dos 2 anos, a chance de escolher como querem aprender, o engajamento subsequente é capaz de gerar grandes cabeças, diz.

Foi assim que Semler chegou ao terreno da educação para desenvolver nas escolas o mesmo raciocínio aplicado nas empresas. “Está tudo errado na base. Se a gente sai de um sistema imbecil que cria submissão, não adianta testar as inovações na empresa. Precisa consertar lá atrás”, diz.

Em 2003 nasceu a metodologia de ensino Lumiar, que atualmente tem cinco unidades no Brasil, com alunos de quatro meses a 14 anos de idade. Três escolas estão no Estado de São Paulo (uma na capital e outras duas em Santo Antônio do Pinhal), sendo que duas são públicas. Há outra unidade particular em Porto Alegre e uma recém-fundada em Utrecht, na Holanda. Nas privadas as mensalidades custam em torno de R$ 2 mil.

A vocação do método, segundo o empresário, é a escola pública. O método Lumiar foi desenhado com referências no antropólogo e educador Darcy Ribeiro (1922-1997) e no ideário de Paulo Freire (1921-1997). Durante dois anos, a questão educacional foi discutida em reuniões periódicas com uma equipe multidisciplinar de 22 pessoas, da qual participaram psicopedagogos e intelectuais e filósofos como Renato Janine Ribeiro, Roberto Mangabeira Unger e Paulo Renato Souza (1945-2011), ministro da Educação do governo Fernando Henrique Cardoso.

O projeto inicial é uma associação entre ele e a mulher. Seus filhos estudam na primeira escola, a Lumiar Internacional (bilíngue e privada), de Santo Antônio do Pinhal. O mais velho, que já saiu de lá, prestou vestibular neste ano. Com licenciamento internacional, o projeto foi levado para o exterior numa sociedade com a Ânima Educação, do empresário Daniel Castanho. Além da unidade holandesa, há uma escola em vias de abrir na Inglaterra. Tudo depende de encontrar o lugar adequado e de sócios. Há quatro anos, a Lumiar foi premiada pela Unesco, Universidade de Stanford e Microsoft como uma das 12 escolas mais inovadoras do mundo.

“No Brasil temos complexo de vira-lata com relação a educação. Com toda a razão. Somos o número 65 do ranking do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes]. Portanto, as pessoas custam a acreditar quando dizemos que há um método brasileiro de educação melhor, que a gente consegue exportar”, afirma. Mas ele diz acreditar que, ao longo do tempo, depois de implantado no exterior, esse método será também prestigiado por aqui.

Onde está a inovação da Lumiar? A escola, de um modo geral, é uma instituição velha e defasada, “uma imbecilidade”, na opinião de Semler. A discussão do conserto da escola não é um problema de ideologia, mas de aceitar que a humanidade está repetindo um padrão de educação obsoleto. Seja aqui, na Rússia ou Finlândia. “Vamos oferecer um mecanismo de modernização da educação, não uma ideologia. Vamos falar de competências. Que competência teu filho tem? Sabe procurar num site de busca? Ela ensina a pensar.”

A Lumiar recriou a figura do tutor da Paideia (sistema de educação da Grécia Antiga), que olha as crianças do ponto de vista emocional e desperta nelas o desejo do conhecimento. “Esse é o professor antigo, que eu resgato como idealismo e que está proibido de dar aula. Ele transfere para um mestre a função do conhecimento. Temos um banco de mestres imenso: a gente chama biólogos, carpinteiros e violonistas para darem aulas.”

Despertar o interesse é o xis da questão. Semler aprendeu isso em sua experiência no MIT, onde a leitura obrigatória de seus cursos era Sigmund Freud (1856-1939), Franz Kafka (1883-1924), Marco Polo (1254-1324) e nenhum livro de administração. “Eles queriam só técnica, mecanismos, argumentos, e eu achava que aquilo não tinha sentido”, lembra. “O conhecimento é mágico. Mas o jeito que costumamos o embalar é enfadonho e difícil de aceitar.”

As principais competências dos executivos, diz, estão no plano subjetivo, na capacidade de liderar e encantar, na capacidade de fazer as pessoas trabalharem juntas. “Não tem nada de matemática lá, nem a capacidade de operar uma calculadora.”

Essa constante veia crítica e a disposição para o risco são fruto de sua educação. Atribui a falta de medo à mãe, Renée, que, antes dele perdeu sete filhos na gravidez. Primeiro filho “numa família machista”, podia tudo – ele ‘Custam a acreditar quando dizemos que há um método brasileiro de educação melhor’, diz Semler tem uma irmã um ano mais nova. “Diz Freud que, se sua mãe acredita em você, não há nada que te segure. E minha mãe sempre achou que comigo tudo daria certo.”

Não foi bem assim. No início dos anos 2000, na época da bolha da internet, o empresário criou 11 empresas “ponto com” acopladas à Semco. Num prazo de dois a três anos todas quebraram. “Algumas você olha agora e diz: boa ideia. Mas foi um desastre completo – 11 de 11 falharam”, conta Semler, ao afirmar que o número de seus projetos que não vai a lugar nenhum é grande. Na maior parte das vezes o erro está no julgamento do tempo, de recursos, do esforço necessário. “É muito fácil para mim achar que vai dar certo”, resume.

Apesar de não ser religioso, ele tem fé e diz acreditar que a vida emite sinais. Quando dava palestras para milhares de pessoas, durante o sucesso de seu livro, começou a se achar “o cara”. Um dia foi parado na rua por alguém que lhe disse: “Você mudou minha vida com aquela frase ‘Quando despertamos para alguma coisa, o universo conspira a favor'”. Atribuído a Paulo Coelho, o pensamento é de Goethe (1749-1832). Foi um banho de água fria. De repente, Semler percebeu que ninguém muda a vida de ninguém. “Achar que foi você que fez é uma ilusão. Ali me livrei daquela persona que eu estava achando que era. Foi uma libertação.”

Outro sinal surgiu aos 46 anos, quando ia de carro para Campos do Jordão (SP), a mais de 100 km/h e um caminhão atravessou a estrada no escuro. Não deu tempo de frear. Foram necessárias quatro horas e meia para retirá- lo do carro, que foi aberto com serra elétrica. O último pedaço de vidro saiu de seu corpo apenas quatro anos depois.

Até chegar ao hospital, pensou que aquilo era um divisor de águas. Morava em São Paulo, tinha dois celulares, secretária – era hora de mudar tudo. Depois de uma grande cirurgia, que lhe rendeu 26 placas de titânio e 93 parafusos no rosto, foi morar em Campos, casou pela segunda vez e teve três filhos. Ele e Fernanda, cada qual, já tinham um filho do primeiro casamento.

De uns anos para cá, Semler trabalha mais em casa, na Serra da Mantiqueira, e tem um programa às segundas e quintasfeiras que batizou de “dias terminais”. Em sua família há problemas oncológicos e familiares morreram de câncer. Após imaginar o que faria quando o médico lhe disser “Chegou sua vez, você tem seis meses de vida”, decidiu criar os “dias terminais”. Nesses dias, ele não tem nenhum compromisso. Acorda e pensa: o que farei? Leva os filhos para a escola, grava músicas no estúdio que tem, lê os clássicos que deixou para a aposentadoria.

Mas Semler tem outras paixões: jogar tênis e uma obsessão “quase doentia” pelo cinema. Durante seis ou sete anos foi júri da Mostra Internacional deCinema de São Paulo e assistia a uma variedade filmes, entre 50 e 70 em dez dias. Seus prediletos são os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne e os alemães Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) e Werner Herzog. Já fez cursos de direção e tem roteiros de curtas-metragens prontos. “Tenho tudo para fazer, só não chego lá.”

Nos anos 90 escreveu a peça de teatro “Cheque ou Mate”, estrelada por Raul Cortez (1932-2006), que ficou um ano em cartaz no Teatro São Luiz, em São Paulo. Seu best-seller também foi escrito de próprio punho: 700 páginas à mão em nove dias. Hoje tem um pouco de vergonha, acha que está meio mal escrito. Mas em todas as reedições – mais de 50 – deixou tudo como estava, mesmo os erros de concordância. “Eu não gostaria que alguém lesse hoje e comentasse.”

Semler lembra que o livro foi recusado por muitas editoras. Costumava receber o recado: “Olha, ninguém compra livro de empresário brasileiro. Aqui interessa Lee Iacocca [ex-executivo da Ford] e Akio Morita [1921-1999, fundador da Sony]”. Foi aconselhado também a imprimir 200 cópias e distribuir autografado como brinde de fim de ano. “Muito obrigado”, respondia. “Não tenho pequenas vaidades. Minhas vaidades são muito grandes.” Impresso pela Nova Cultural, o livro foi um sucesso de vendas no Brasil. “Me deu um dinheiro louco. Venderam 500 mil livros, e eu tinha acertado 20% de direitos autorais na gozação.”

Ao completar 50 anos, Semler se deu de presente uma fogueira no jardim para queimar tudo o que o ligava ao passado, todas as edições do livro (de 36 países) que tinha em casa, entrevistas, vídeos e DVDs. “Me libertei. Não quero que meus filhos cresçam com a sensação de que precisam seguir o pai “.

O otimismo que cultiva nos negócios se estende para a política. Apesar do baixo astral do momento, não acha que o Brasil vai tão mal como virou voz corrente, nem que o PT no governo roubou mais do que outros partidos. “Eles roubaram mais à vista, são completos amadores!” A corrupção, na opinião de Semler, foi um negócio tentacular “superimportante” nos anos 60, 70 e 80. “Lá foram roubados números importantes, portentosos, como na ponte Rio-Niterói. Quem eram as construtoras?”, questiona Semler, antes de citar empresas que fizeram acordos na Lava-Jato.

Agora, diz, tudo é picuinha. É um “peanuts” que está aparecendo, e seria melhor o país reconhecer que isso não é nada perto do que sempre se fez. Roubaram sempre cem, 200 vezes mais. “A Lava-Jato foi fechada seis meses atrás, trancada com cadeado, e ela era 0,1% da corrupção que temos. Dou uma lista aqui de 20 Lava-Jatos e cada uma tem o mesmo tamanho. Vocês querem perdoar? Ok, vamos virar evangélicos. Mas fingir que continuamos sem saber não vai resolver.”

Nem por isso o empresário se desanima com o país ou acha que estamos em marcha à ré. “A gente vai se reformatar. Não é improvável que daqui a cinco ou seis anos a gente volte a estar na onda.” Para ele, não é o Congresso, Michel Temer ou a classe política que vão segurar esse processo – atrasa um pouco como Trump atrasa os EUA. O Brasil, diz Semler, está muito bem configurado, tem os grandes quesitos do futuro: talento, criatividade e capacidade de se adaptar. Do ponto de vista humano seu otimismo prossegue. Temos problemas, questões, mas tudo pode ser resolvido, diz. “Acho que vem de fábrica nossa capacidade de viver e enfrentar adversidades. Estamos bem aparelhados.”

Fonte: Valor Econômico | Por Maria da Paz Trefaut