Nos últimos dois anos, a história de dois grupos educacionais esteve ligada por uma fusão que criaria um gigante do ensino superior: a tão badalada união entre Kroton, comandada por Rodrigo Galindo (à esq.), com a Estácio, que tinha o empresário Chaim Zaher (à dir.), do grupo SEB, como o principal acionista individual. Pois bem, em julho do ano passado, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não aprovou o negócio e cada um seguiu sua vida. Zaher vendeu sua participação na Estácio para o fundo americano Advent por mais de R$ 400 milhões e decidiu focar no ensino básico. A Kroton, por sua vez, passou a buscar alternativas de crescimento. Na semana passada, os dois deram duas grandes tacadas. O SEB comprou uma escola em Goiânia, numa sucessão de aquisições que tem feito desde o início de 2017, e a Kroton anunciou a criação de uma holding para investir no ensino básico. Ou seja, vão brigar pelo mesmo mercado. A coluna conversou com os dois. Entenda os passos de cada um:

A investida da Kroton

Dona de uma receita líquida de R$ 5,5 bilhões e um lucro líquido de R$ 2,2 bilhões no ano passado, a Kroton, maior empresa de ensino superior do Brasil com 876 mil alunos, não tinha uma presença sólida no mercado de educação básica. Mas agora terá. “Levamos um ano e meio construindo um plano de negócios para entrar na educação básica”, diz Rodrigo Galindo, o CEO da companhia. Na semana passada, o grupo lançou a holding Saber, que atuará de forma separada da Kroton. Para entrar nesse setor, no qual já conta com a rede mineira Pitágoras, responsável por um faturamento de R$ 118,9 milhões no ano passado, a Saber foi às compras. A empresa levou o Centro Educacional Leonardo Da Vinci (CELV), um dos mais famosos de Vitória, no Espírito Santo, por um valor estimado pelo mercado em R$ 120 milhões. A estratégia agora é replicar o modelo do CELV em outras cidades capixabas e aplicar a mesma tática com escolas adquiridas em outros Estados. “Vamos comprar outras duas escolas até o fim de 2018”, diz Galindo.

A conta que a Kroton fez para entrar no segmento é sedutora. Entre as mensalidades escolares e os cursos contraturnos, que são aulas de música, esportes, entre outros, a educação básica movimenta R$ 100 bilhões, quase o dobro do mercado de educação superior, que é de R$ 57 bilhões. A Saber vai atuar em um nicho que movimenta R$ 45 bilhões por ano, o de escolas com mensalidades a partir de R$ 1,25 mil. “Dentro de nove anos, o plano é ter R$ 4,5 bilhões de faturamento” diz Galindo. Indagado se essa é uma resposta à fusão com a Estácio, reprovada pelo Cade, o executivo nega. E sobre a competição com o SEB, o líder no setor, ele adota a diplomacia. “Tem espaço para todo mundo. O mercado de educação básica é muito fragmentado. Enquanto no ensino superior existem 2,4 mil universidades, na educação básica há 30 mil escolas” diz ele.

O avanço do grupo SEB

Com 45 mil alunos no ensino básico, mais de 40 escolas próprias e marcas como Pueri Domus, Concept e Maple Bear, o SEB, dono de um faturamento anual de R$ 850 milhões, também atua no ensino superior por meio de Educação a Distância (EAD), segmento no qual concentra 21 mil alunos. A menina dos olhos, entretanto, continua sendo a educação básica. E Chaim Zaher, o dono do grupo SEB, traçou uma boa estratégia para ganhar mercado. “Nosso plano é comprar marcas locais fortes em todas as capitais do Brasil”, diz Zaher. Na semana passada, ele pagou R$ 30 milhões pelo colégio Visão, de Goiânia, um dos mais tradicionais do Estado, com 1 mil alunos, e pretende levar a marca para outras cidades de Goiás. Essa aquisição se soma a outra realizada no início deste ano, quando levou a rede de escolas de A a Z, do Rio de Janeiro, com sete unidades e três mil alunos, por R$ 45 milhões. “Até o fim do ano, vamos inaugurar mais uma unidade do de A a Z, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro”, afirma o empresário.

Além disso, pretende fazer mais três aquisições ainda em 2018. Escolas em cidades como Recife (PE), Fortaleza (CE), Natal (RN), São Luiz (MA) e Porto Alegre (RS) estão no radar do grupo. A ideia é atuar desde colégios mais acessíveis, com tíquete médio de R$ 600, passando pelas aprovadoras, cujos preços se iniciam em R$ 1,5 mil; até as premiuns bilíngues com mensalidades a partir de R$ 3,5 mil; e as de vanguarda como a Concept com valores que se iniciam em R$ 6 mil por mês. Indagado sobre a investida da Kroton em um setor em que, praticamente, ele domina, Zaher também é diplomático. “Não estou preocupado com concorrentes do segmento do ensino superior. Educação básica tem outra filosofia, exige muito conhecimento e DNA. Temos mais de 50 anos nesse setor”, afirma.

 

Fonte: Carlos Sambrana Diretor das revistas Istoé Dinheiro, Dinheiro Rural e Motor Show, e apresentador do programa MOEDA FORTE na TV Dinheiro