O tempo efetivo do conselho de administração é raramente abordado. O que sabemos é quais são as atribuições dos conselheiros, que são profissionais encarregados do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico. Além disso, como define o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), os conselheiros exercem o papel de guardião dos princípios, valores, objeto social e sistema de governança da organização, sendo seu principal componente

Não há dúvidas de que o conselho de administração seja importante para os rumos estratégicos de uma organização. Como explicamos neste post, ele não só é o órgão encarregado do processo de tomadas de decisão, mas ao conselho compete igualmente monitorar a diretoria e ser um elo entre ela e os sócios.

No entanto, apesar de terem funções remuneradas, as exigências dos cargos não são fáceis. O papel que os conselheiros exercem nesses órgãos envolvem compromissos inclusive de patrimônio dos profissionais. Pensando nisso, qual é o tempo efetivo do conselho de administração? O IBGC fez uma pesquisa e trouxe uma visão sobre o tema. A seguir, compartilhamos alguns insights.

Perfil dos conselheiros e das organizações

Para entender, a pesquisa realizada pelo IBGC foi por meio de um questionário online e anônimo enviado para alunos e ex-alunos do Instituto entre os meses de outubro de 2019 a janeiro de 2020. Do total de 3.165 contatos foram obtidos 103 respondentes com informações válidas para a análise.

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Vale destacar que para fins de pesquisa apenas conselheiros de administração e conselheiros consultivos estavam habilitados a responder às 27 questões propostas. A fim de que você entenda a diferença entre conselho de administração (CA) e conselho consultivo (CC), tenha em mente que organizações em estágio inicial da adoção das práticas de Governança Corporativa tendem a formar primeiro um CC como uma opção transitória ao CA.

Outra questão importante é que, ao contrário do CA, o conselho consultivo não tem poder decisório e não é deliberativo. Sua função é a de aconselhar os administradores quanto a recomendações que, em seguida, serão ou não aceitas.

 

Detalhes dos perfis

Na amostra, os 103 conselheiros afirmaram trabalhar em 238 conselhos diferentes – tanto de administração quanto consultivos, conforme abaixo:

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66% dos respondentes atuam em um ou dois conselhos
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1/3 em um único conselho de administração
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19% atua em quatro conselhos ou mais (sendo 15% desses respondentes atua simultaneamente em conselhos de administração e consultivos)

Foi observado também que 36% do total possui entre 60 e 69 anos, o que dá a idade média de 57 anos. Com relação ao gênero, constatou-se uma maior presença masculina: dos respondentes, apenas 19% dos conselheiros são mulheres. O número representa o cenário do nosso país quanto à diversidade nos conselhos, pois conforme noticiado, em 2020, das 17 empresas que abriram capital até setembro, oito ainda não possuíam mulheres no corpo de conselheiros.

Sobre a posição ocupada, a maioria é conselheiro independente (65%). Já com relação ao perfil das organizações, a amostra é composta em sua maior parcela por empresas de controle familiar (57%). Além disso, empresas de porte médio – abaixo de R$ 100MM – concentram 32% da amostra.

Até aqui você conheceu um pouco do perfil dos respondentes. Agora, responderemos à questão:

Como é distribuído o tempo efetivo do conselho de administração?

A segunda parte do estudo detalha como o tempo efetivo do conselho de administração é distribuído. A pesquisa constatou que 54% do tempo dos conselheiros é dedicado às reuniões. Em número de horas, isso equivale a 157 horas/ano para suas atividades, sendo que o valor contabiliza as reuniões ordinárias – de planejamento estratégico, reuniões de comitês ou tempo para outras atividades -, mas não as reuniões extraordinárias que, eventualmente, sejam realizadas ao longo do ano.

No que diz respeito às reuniões ordinárias, os conselhos realizam em média entre 10 e 12 reuniões por ano. Na comparação entre conselheiros de administração e conselheiros consultivos, os primeiros dedicam em média 20% a mais de tempo do que os segundo (131 horas/ano).

Uma constatação que chama a atenção é o fato de que, conforme a amostra, os conselhos passam muito tempo olhando para o passado e cuidando de assuntos que deveriam ser da alçada de gestores (e lembramos que o pensamento no futuro é a chave para o sucesso de um negócio).

Para melhor entendimento, veja o gráfico a seguir, extraído do documento “Conselheiros: dedicação de tempo dentro e fora das salas de conselho”:

A pesquisa do IBGC também contemplou o percentual de reuniões extras/ano e de planejamento estratégico. O resultado foi:

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40% dos conselhos não realizam reuniões extras/ano
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74% dos conselhos realizam reuniões de Planejamento Estratégico
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Cerca de 26% da amostra não realizam reuniões de Planejamento Estratégico separadamente das reuniões regulares

E já que estamos falando sobre o tempo efetivo do conselho de administração, o que os conselheiros fazem quando não estão em reunião? Conforme a pesquisa do IBGC, quase metade do tempo desses profissionais é destinado a atividades como leitura de materiais, conversas por telefone, reuniões individuais e entrevistas. Observe o gráfico extraído do documento citado:

Concluindo: nível de dedicação percebido pelos conselheiros

Tendo uma base sobre o tempo efetivo do conselho de administração, o IBGE questionou os conselheiros se eles pensam utilizar mais tempo do que o recomendado para suas atividades. A percepção de 29% dos conselheiros de administração e de 26% dos conselheiros consultivos é de que sim, eles utilizam mais tempo do que deveriam.

Uma parte dessa análise pode-se referir ao fato de que os conselheiros acabam tendo que se envolver em assuntos que deveriam ser tratados no âmbito da gestão. Por esse motivo, é fundamental que a empresa e os conselheiros entendam qual é o papel do conselho.

Fonte: glicfàs