Nos últimos vinte anos tenho atuado como consultor assessorando empresários no planejamento, estratégia e gestão de seus negócios e tenho observado que uma das maiores dificuldades das empresas, e que provoca grande indignação por parte de seus gestores, é captar recursos financeiros que permitam viabilizar seus projetos organizacionais e de crescimento.

Esta situação é um tanto quanto controversa, já que não faltam instituições financeiras interessadas em emprestar recursos ou investir. Existem linhas de financiamento e investimento para todos os tipos e portes de empresas, desde recursos para capital de giro, investimento em maquinário e tecnologia, passando por operações mais arrojadas através de fundos imobiliários e de direitos creditórios (FIDC) para viabilizar grandes projetos como construção de nova planta industrial, além de capital de risco e mercado de ações.

Abaixo relaciono algumas opções de linhas de financiamento e investimento e suas características:

  • Bancos Comerciais: Tem como foco principal empréstimos para capital de giro como antecipação de recebíveis, 13º salário, etc. Geralmente são linhas com prazos menores e taxas altas, o que torno o recurso mais CARO. Atuam também com algumas linhas de investimento subsidiadas por programas governamentais. Exigem garantia ou aval para a maioria das operações
  • Fundos de Investimentos: Conjunto de investidores que aportam capital e realizam operações estruturadas através de participação societária em projetos e empresas com potencial de mercado. Financiam desde ideias, empresas em fase embrionária e projetos de inovação até empresas consolidadas e em franco crescimento. As denominações mais utilizadas para estes fundos são Angel Capital, Seed Capital, Venture Capital, Private Equity, dentre outras. O diferencial é que participam do risco e o custo do recurso tende a ser mais barato, em função de vantagens tributárias e inexistência de intermediários. Em contrapartida, são extremamente exigentes na escolha das companhias que investem
  • Bancos de Fomento: Trata-se de Instituições Financeiras não bancárias que trabalham com apoio de recursos públicos e com a concessão de financiamentos e linhas específicas para fomento e operacionalização das empresas. Atuam com linhas de médio e longo prazos e com taxas extremamente atraentes. São criteriosos e, na maioria das vezes, para concessão dos créditos, exigem garantias e projetos bem elaborados

Neste último grupo se enquadra o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). BNDES é uma das instituições com maior capacidade de emprestar dinheiro no mundo e que não tem sido amplamente utilizado na concessão e liberação de crédito e investimentos por falta de bons projetos e boas empresas

Mas, afinal, com tantas opções e recursos disponíveis no mercado, por quê as empresas encontram tanta dificuldade para se capitalizarem? Pode-se destacar três motivos relevantes:

  • Desconhecimento por parte das empresas das linhas de financiamentos existentes
  • Despreparo das empresas e falta de projetos que façam “brilhar” os olhos dos investidores
  • Falta de investimento das empresas em assessorias especializadas e profissionais com competência, vivência, conhecimento e foco para conduzir o processo de captação de recursos, identificando as melhores opções e linhas, elaborando os projetos, plano de negócios e estudos de viabilidade, alem de negociar com as instituições financeiras.

Normalmente o que se observa é que, em função deste despreparo, falta de planejamento, orientação e acompanhamento de assessorias especializadas e também uma visão pouco planejadora, a maioria das empresas, principalmente as de pequeno e médio portes, acabam por trilhar o caminho mais fácil e rápido, utilizando em excesso os bancos comerciais, que, via de regra, têm custos mais altos e prazos menores de financiamento. Em determinado momento, isso sensibilizará a gestão financeira e o fluxo de caixa destas organizações, podendo tornar a situação traumática. Como diria Pedro Malan: ¨Para um problema complexo tem sempre uma solução fácil, rápida e errada¨.

Para mudar este cenário é necessária uma nova filosofia. É preciso planejar e estabelecer objetivos, não só de curto, mas também de médio e longo prazos. O que acontece raramente nas empresas menos preparadas.  Faz-se então uma pergunta:

– Quantas empresas de menor porte você conhece que anualmente elaboram o seu orçamento, estabelecendo as metas, o plano de investimento, a necessidade de capital de giro e as ações a serem tomadas para o período?

Esta reflexão e mudança na forma de pensar e agir é urgente e necessária. Não existe outro caminho. Ao invés dos empresários ficarem indignados e reclamando das dificuldades em captar recursos financeiros e dos altos custos das operações, seria muito mais produtivo desenvolver uma gestão calcada em planejamento, projetos atraentes e consistentes e equipe e assessorias capacitadas. Desta forma, as organizações conseguiriam aproveitar as grandes oportunidades, que podem ir desde uma simples operação de empréstimo, um aporte de recursos através da entrada de um novo sócio ou até mesmo uma abertura de capital na bolsa de valores (IPO). Certamente esta gestão focada em planejamento e oportunidades vai ajudar as empresas a se tornarem mais competitivas, com melhor desempenho e, fundamentalmente, contribuirá para cumprir sua missão e atingir seus objetivos estratégicos.

Autor: Marco Aurélio Rodrigues